O papo de boteco
morreu só para quem não o frequenta. Essa é a verdade que eu defendo, já que
vivo por ai, confirmando essa teoria.
Mesmo morando
numa região onde é evidente a escassez dessa obra prima , é notório que quando piso
na calçada do bar que fielmente me aguarda, a magia dos antigos começa a popular minha retina.
O bar é um
lugar de movimento. Primeiro entro, depois vou até o balcão, em terceiro dou um
giro de 360º com os olhos pra confirmar se esta tudo “ok” com o ambiente. Nesse
giro sempre encontro alguém que levanta a mão e me chama na mesa de canto,
aquela tradicional. Cara conhecida, chopp recém-chegado à mesa, me levanto e
vou jogar conversa fora dentro da roda, pra fazer com que ela gire a noite inteira.
E o check-in
irresistível que eu faço não é pra trocar o bar pelo smartphone, é pra instigar
quem não está no bar a vir prestigiá-lo. Não precisa ser hoje, nem amanhã, nem
comigo, mas todos têm que ir um dia. E aquela foto da cerveja que eu publico é pra dar sede em quem não está
presente. Hábito.
Qual é a boa?
Qual é a boa?
E a conversa começa
com um conjunto de elementos.
As palavras
não param. Seja pra falar sobre o jogo de cintura que faz o garçom se esquivar - de tudo e de todos - segurando a bandeja lotada de pequenos prazeres, seja a
conversa que a gente começa com um desconhecido (a) só pra encaixar mais uma
cadeira na mesa já lotada. E há sempre o debate infame sobre o trabalho
ruim e desgastante, que a gente aguenta porque é justamente ele que nos proporciona
os melhores happy hours.
A conversa é o
próprio bar.
É a própria
mesa, é a própria decoração com giz e lousa no lugar do cardápio. É a própria
TV que aguarda o futebol. Quem é que frequenta bar pra assistir ao Jornal
Nacional? Ou ao filme novo do Vin Diesel? Ele ainda faz filmes? Acho que não.
É nesse bar
que surge novamente o amigo garçom, que volta na mesa com as mãos vazias só pra
falar que os filhos estão crescendo, que o time vai sair da 2º divisão e sobre
o salário baixo que os 10% ajudam a complementar. Gorjeta essa, aliás, que pelo
atendimento da noite ele merece até demais.
A conversa é o
garçom que faz.
E a noite
entra com aquele sonzinho que em virtude do tempo virou trilha sonora ‘praquela’ história que eu contei da minha
última viagem, também sobre a cerveja artesanal que eu provei ou ainda da ideia
fenomenal de abrir um empreendimento revolucionário. E esse é o mesmo ambiente
onde eu ouço falar de política interna e externa, da Era medieval e do
seriado que não vou ver, mas debaterei os episódios como se fosse um fanático.
Mais um chopp,
uma cruzada de pernas lentamente acompanhadas, uma apertada de mão no dono do
bar e um tapinha nas costas do amigo que saiu tarde do trabalho e chegou
atrasado. “Mais um chopp aqui garçom, por favor, me quebra essa?”
A conversa é a
própria amizade.
Quem é que
consegue escolher um só assunto pra embalar esse encontro no bar que pede tanto
da nossa atenção?
Noite alta. É
hora de voltar pra onde eu realmente resido, mas tudo é tão bom que eu vivo
mesclando e me perco de endereço. E isso já me aconteceu várias vezes.
Duas coisas
que eu gosto além de uma boa conversa: o bar e o lar. Mas eu dou preferência
pro bar porque a letra B vem primeiro no alfabeto.
Depois dessa, vamos pro bar?
ResponderExcluirnao sou de frequentar bares por falta de locais agradáveis e companhias, mas sempre que posso tento compartilhar das praticas citadas no seu texto...
ResponderExcluire quem sabe nos esbarremos em um boteco destes por ai... a primeira rodada e por minha conta!
ass:oce711