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quarta-feira, 17 de abril de 2013


          Ele estava no colégio jogando futebol antes mesmo do inicio do primeiro dia de aula. Era alto e meio gordinho, desses que fica ofegante depois de um gol e logo é substituído. E depois descobri, nesse mesmo dia, que ele era da minha sala. Foram anos amando platonicamente aquele ser que era um bom amigo e muito educado. Eu gosto de pensar que, na minha vida daquela fase, ele era o amor que eu queria.
Encontrei o amor da minha vida anos depois neste mesmo colégio. Ele era o retrato da perfeição que eu achava existir. Nós não nós falávamos, era uma admiração visual que fazia bem para o conhecimento dos meus gostos pessoais. Acabamos por nos conhecer muito tempo depois, inclusive conheci a sua mãe primeiro e ela era uma fofa. Mas não passou daí. Era o amor da minha vida que estava se formando.
Tempos depois  o amor da minha vida era um cara inesperado. Era inesperado, mas era uma delícia passar um tempo enorme falando com ele. Era um daqueles namoros adolescentes que nunca foram ou saíram da escola. O amor da vida era a vida que sempre sorria quando a gente se falava. Eu o encontrei.

Mas o amor da vida mesmo veio numa noite qualquer. Me trouxe uma flor de papel e me fez rir de tudo que era e não era de fato especial. Ele estava bêbado, mas eu não dava a mínima para este efeito. E eu tinha encontrado ele sem procurar e eu acho que na vida, ou nos amores da vida isso é que faz a diferença. Eu sentia em seu abraço que pouco se importava a vida que a gente misturava ali, mas eu tinha a certeza de que não havia nada mais importante que isso. Eu dou muito valor aos abraços, porque eles são mais difíceis de achar do que amores.

          Mas em uma outra noite mais nublada ele provou que realmente era aquele amor que eu havia imaginado, quando me sentou na cama e disse “eu não vou poder ficar”. E essa sinceridade, acompanhada de uma ida não menos dolorosa pra mim e de certo modo pra ele, me fez imaginar que minha busca havia terminado. Mas como terminar, se ele é uma continuação dos amores da vida e da vida de todos os amores. O que tinha sido interrompida ali era a vida, não o amor.

E depois veio o amor que me viu como amor. Me viu como a mulher que eu realmente era. E a minha felicidade em encontra-lo transcendeu qualquer tipo de limite geográfico. Depois que esse amor desceu a estação, eu peguei outra linha e parei no amor que era parceiro. Daqueles que eu poderia rir enquanto o líquido do copo ia acabando ou enquanto erguíamos o braço pra chamar o garçom pra descer mais uma rodada. Este amor encontrou a minha literatura e fez um bem enorme a ela. Eu e ela (literatura) finalmente encontramos o caminho do amor da nossa vida.
E eu segui amando aos amores da vida que não eram apenas pessoas, eram paisagens, personagens, locais, bebidas, músicas, copos com gelo, filmes de ação, livros de mitologia, crônicas, sorrisos de criança e chocolates com pouco açúcar. Eu aprendi a gostar de tantas outras coisas que até mesmo desconstruí toda uma teoria sobre amores românticos. Eu não ligo e nunca me importei com eles, porque ligava (e ligo) mais para pele e intensidade do que para padrões e regularidades.

E foi por essa linha que encontrei outra taça, outro caminho, outro abraço. E foi dessa forma que descobri que o amor da minha vida era a minha boa vontade, vez ou outra minha cara de pau, e até mesmo meu desprendimento. O amor era eu!

@gi_cabral tenta, mas não consegue desapaixonar da falsa modéstia.
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Um comentário:

  1. Belas palavras! Essa sua arte de arquitetar o pensamento preocupando com a colocação contextual de cada frase, mostrando o seu encontro com você mesma. É lindo ter a certeza de que nos bastamos por nós mesmos e que quando temos ciência disso, o prazer fica maior, independente do que fazemos e ainda mais fazendo que gostamos, acompanhados ou não. Pode parecer conversa de bar, mas depois desse texto a próxima rodada é por minha conta, um brinde ao amor da sua vida. <3

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